5 de mai. de 2010

0BR-163 e o alho são os temperos de uma vida


O que há por trás daquelas enormes réstias de alho dependuradas em pequenas barracas ao longo da BR 163 no trecho entre os municípios de Douradina e Dourados? Nada a não ser uma pessoa que se bronzeia ao sabor do sol para ganhar o seu pão-de-cada-dia. Entre dezenas de pontos onde o alho está em exposição um chama a tenção pela tenacidade de uma mulher no dsitrito de Vila vargas.Ela é Fátima Araújo Santana é filha de mais uma daquelas famílias que aportaram na região de Dourados na década de 1950 atraídas pela criação da CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados) um projeto de colonização e reforma agrária da era Vargas que emprestou o nome para a vila que já foi considerada a Capital do Alho em Mato Grosso do Sul.Fátima é um exemplo a ser seguido. Quando jovem trabalhava na plantação de alho. Estava nas colheitas e depois engrossava seus dedos construindo enormes réstias. Entrelançando o alho tecia a vida que deveria ser seguida. A Vila Vargas em ebulição. Os pequenos produtores apostavam na plantação de alho como a redenção econômica. O sucesso foi grande. Em cada pedaço de chão o alho estava semeado.O trabalho de sol-a-sol era a tônica dos trabalhadores da pequena Vila. Fátima era uma das agricultoras que viu o apogeu e a queda do alho. Em 22 de outubro de 1984 foi inaugurada sede da Coopalho uma cooperativa de agregava todos os produtores do tempero maior dos brasileiros. O alho ia de 'ventempopa'. Todo mundo ganha seu dinheiro e garantia o sustento dos rebentos. Fátima fazia parte deste todomundo. Casou-se e continuou na lida do alho.Plantava e colhia para depois vender as réstias na beira da BR que une os pontos meridional e setentrional de Mato Grosso do Sul. Talvez a mais importante rodovia do Estado. Fátima conta que o sonho dos plantadores de alho começou a se transformar em pesadelo. Não se sabe os motivos mas eis que a decadência do alho apontou no horizonte. Na sua imensa sabedoria e talvez inocência, Fátima explica que certo dia apareceu um eclipse e o alho e a cooperativa feneceram. Pelo jeito Fátima quis dizer que o tal eclipse tenha sido o cometa de Halley que chamou a atenção nacional em 1985. Todos sabiam de sua passagem. Ninguém viu a cauda do cometa.Para Fátima a única coisa real era a necessidade de continuar trabalhando. Na margem da BR continuou vendendo o seu alho. O ainda dava para produzir. Tudo ia muito bem até que há treze anos o marido de Fátima resolvou desencarnar. Viúva a vendedora de alho continuou vendedora de alho no mesmo lugar, na mesma barraquinha mas com uma nova missão: cuidar sozinha de si e dos dois filhos pequenos.Passados tantos anos desde o primeiro dia numa roça de alho, Fátima sente-se feliz e vitoriosa com a sua missão. Conseguiu criar os filhos e encaminhá-los para vida. Com vinte e vinte anos de idade os filhos cuidam de suas próprias vidas longe da rodovia e da barraca de alho. Fátima se orgulha da dignidade do seu trabalho e diz que faria tudo de novo. O senso de honestidade e de respeito ao ser humano é imanente ao caráter de Fátima que não planta mais alho.Ela sugere que a decadência da Capital do Alho deve-se a falta de apoio governamental aquela agricultura feita pelas famílias. Fátima diz que tudo é muito dificil. Muitas pragas e a vicissitudes climáticas. O agricultor planta e na hora de vender a colheita não acha que compra e muitos menos preços condizentes com os custos de produção.Para Fátima a única coisa real era a necessidade de continuar trabalhandoMas om que Fátima Santana de 49 anos de idade continua fazenda na beira da 163 à espera de clientes já que não existem mais plantações de alho na Capital do alho? Ela responde pedindo segredo. As longas tranças de alho e seu branco que brilha nos parabrisas dos carros que passam agitados na BR 163 são frutos das mãos de outros agricultores que a exemplo de Fátima e seus conterrâneos sofrem do mesmo mal. a falta de apoio para produzir.O alho de fátima agora é importado da Mendoza. Fruto do descaminho 'formiguinha' o alho argentino fala português na barraca de Fátima que a exemplo da 'velhinha contrabandista' de Stanislaw Ponte Preta usa do bom humor, da esperteza para driblar a crise, vencer os desafios e garantir a sobrevivência numa atividade que nos remete a força do trabalho, o sonho e a necessidade de levar a vida honestamente e com dignidade.

Fonte: MidiaMax

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